Por Evandro Barreto, autor livro Na Mesa Cabe o Mundo, um delicioso e suculento livro de crônicas, em que o autor nos leva aos mais tradicionais bistrôs de Paris.

Um quadrado com história dentro

Esta é a única maneira que encontro de descrever a Place des Vosges sem usar torrentes de adjetivos. Porque ela não é apenas a mais bonita de Paris. Foi também a primeira área da cidade a impor aos proprietários dos imóveis que a cercam um partido arquitetônico rigoroso, definido pelo rei Henri IV e tomando como referência o pavilhão real que ele mandou construir para si próprio.

No reinado de Louis XIII, o hoje bucólico gramado era palco de inúmeros duelos, muitos deles protagonizados pelos mosqueteiros que inspiraram Alexandre Dumas a criar os três que eram quatro. E tinha que ser atravessado pelo rei ou pela rainha sempre que eles queriam ou precisavam se encontrar, pois os dois moravam em lados opostos da praça, provavelmente tendo boas razões para isso.

Louis XIV achou que era muito pouco para um rei-sol e mandou construir Versailles. Da presença real só restaram a estátua do pai e o nome Place Royale. História vai, história vem, alguns luíses depois a estátua foi derretida e rendeu várias balas da canhão para defender a revolução francesa. Serenados os ânimos, fizeram uma réplica e a colocaram no mesmo lugar da original. Já o nome mudou de vez, para homenagear Vosges, o primeiro departamento francês a recolher impostos aos cofres do governo central.  Foi a primeira derrota do direito divino para o direito tributário.

De repente, o século XXI. Brasileiros de primeira ou enésima viagem, indianas de sari, pequinesas de Vuitton. É domingo, é dezembro, a praça cheia de gente, a grama coberta de neve. A história continua se fazendo, em outro ritmo, e estamos ocupados demais para perceber que somos personagens. Do alto do pedestal, o rei de bronze olha para a plebe com aristocrática indiferença.

O que nos faz lembrar da passagem do tempo é a fome. Estamos a poucos passos do “Ma Bourgogne”, uma referência de boa comida no quarteirão, mesmo para os moradores do bairro, assíduos o bastante para reconhecermos alguns deles, viagens depois. As arcadas, como sempre lotadas. Sentamos no salão, ao lado de uma jovem e elegante mãe russa, que aprimora a educação da filha à mesa, mas não consegue despertar na criança um genuíno interesse pela salada.

Enquanto escolhemos os pratos, uma associação de idéias me faz sorrir sem razão aparente, o que intriga La Blonde. Para não reforçar a imagem de maluco que ela faz de mim, tenho que explicar. Muitos anos antes, em Nova Iorque, encontrei na carta do badalado Club 21 uma sugestão que o nome tornava irresistível: “La petite marmite du roi Henri IV”. Claro que pedi, sem hesitação. Veio uma tigelinha com um caldo tão ralo, tão insosso, que até hoje acredito ter sido preparado no hospital da Santa Casa do Bronx. Bem-feito, devia ter-me lembrado que americanos e soberanos não têm muita afinidade.

No Ma Bourgogne, não há esse tipo de risco. O que quer que você escolha, vem cheiroso, gostoso, substancial e com preço honesto. Pedimos paté de campagne, seguido de frango com as incomparáveis “frittes” francesas. A sobremesa foi sorvete. Em pleno inverno europeu? A griffe Berthillon explica e justifica. Como vinho, um agradável e despretensioso tinto de Macon.

Junto com a conta, um mistério. Enquanto 99% dos restaurantes parisienses rejeitam cheques, no Ma Bourgogne eles são bem-vindos. O que o estabelecimento recusa com veemência é cartão de crédito.

A neve aperta, a noite cai, as pessoas vão sumindo. Segundo tradição oral da vizinhança, nas madrugadas muito frias, quando a praça fica deserta, é possível ouvir ao longe o tropel dos mosqueteiros.


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O livro Na Mesa Cabe o Mundo é um delicioso e suculento conjunto de crônicas em que Evandro Barreto nos leva aos mais tradicionais bistrôs de Paris (e, de quebra, a outros endereços sagrados de cidades como Londres, Berlim e Rio de Janeiro).

 

 

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