por Rodrigo Lavalle
No divertido livro ‘Dessine-moi un Parisien’ o escritor Olivier Magny trata dos clichês comumente associados aos seus conterrâneos parisienses. Sempre com muito humor e ironia, o autor fala sobre o estilo de vida, modo de pensar, agir e se vestir de quem nasceu ou renasceu em Paris. Assim como todo clichê, o que Olivier escreve é cheio de verdade e de uma pitada de exagero. Alguns capítulos inclusive parecem contradizer outros. O mais importante é não levar o livro muito a sério mas usá-lo como um introdução ao tema. Separei e comentei os capítulos relacionados à moda ou ao estilo de se vestir dos parisienses. Mais um artigo para complementar nossa investigação sobre o assunto (outros posts aqui, aqui e aqui).
- Vestir preto (Porter du noir):
Olivier escreve que os parisienses gostam de se vestir de preto da cabeça aos pés porque é simples, básico e assim eles passam facilmente desapercebidos. As mulheres em especial preferem o preto porque ele ‘emagrece’. A única outra cor aceitável é o azul marinho pois ele tem “o bom gosto de ser facilmente confundido com o preto”.
Como eu escrevi no artigo sobre o casaco vermelho, em Paris as pessoas não são coloridas. A maioria opta por roupas escuras porém não só o preto; marinho e marrom também entram na jogada. Pessoas usando preto é mais evidente no inverno pois quase todo mundo prefere comprar casacos de inverno dessa cor.
- As meias brancas (Les chaussettes blanches):
Um dos capítulos mais radicais do livro! Olivier começa dizendo que o parisiense crê profunda e intimamente que todo ser humano deve ser respeitado MENOS aqueles que usam meias brancas! Para os parisienses usar meia branca com sapato social é a pior das faltas de gosto. É aceitável porém usar meia branca com tênis desde que a pessoa esteja praticando algum esporte no momento.
Confesso que nunca reparei se os parisienses usam menos meias brancas que os brasileiros – que usam bastante! Já reparei sim que vários homens usam meias coloridas ou com pradronagens. Mesmo alguns deles que usam terno para trabalhar tentam quebrar a monotonia usando meias coloridas.
. O jeans (Le jean):
Aqui Olivier argumenta que o jeans serve como um divisor de idades: todos os parisienses com menos de 50 anos usam jeans enquanto que todos aqueles com mais de 50 anos não os usam. Mesmo para o uso de algo tão básico e corriqueiro quanto uma calça jeans, os parisienses possuem ‘regras’: não é de bom tom usá-los com tênis (a não ser com All Stars); as camisas devem sempre estar por dentro do jeans mas as t-shirts e as polos não. Um conselho importante que Olivier dá é que se deve escolher bem o corte do jeans que se usa pois ele diz muito sobre a orientação sexual de uma pessoa. O autor não oferece explicações mais detalhada a respeito disso…
O jeans é uniforme mundial e em Paris não é diferente. Porém aqui não existem tantos malabarismos criativos nos jeans como no Brasil: bordados, lavagens, estampas, patchworks, etc… E é óbvio que muita gente os usam com tênis (mas muitos homens usam com sapato e paletó). Na verdade vejo poucas pessoas usando jeans com All Star e tênis de academia. Os homens preferem os Vans ou então modelos bem simples também de lona de marcas como Fred Perry ou Le Coq Sportif.
Antes de escrever o livro, Olivier escrevia um blog em inglês – Stuff Parisians Like – com o mesmo tema.
33 Comentários
Giovanna Porchéra
Para as mulheres, as calças jeans quase sempre deixam parte dos tornozelos à mostra, acompanhadas de sapatilhas ou um estiloso sapato Oxford. Aliás, foi em Paris que, finalmente, encontrei um Oxford que me completasse!
Ludmila
Rodrigo, eu li “Stuff Parisians Like” (virou livro) quando estive em Paris no começo do ano, comecei a reparar e concluí que o autor tem razão quanto ao ódio às meias brancas! Olha só:
1) nas vitrines das lojas, tem meias de todas as cores. Menos branco.
2) no metrô, vi um parisiense de tênis branco… e meia preta.
Mas talvez eles estejam certos, viu? Faz um tempo que aboli as meias brancas da minha vida (só meu tênis é preto, rs). Elas sujam fácil e é dá trabalho mantê-las branquinhas, mesmo que estejam limpas…
RICARDO AVELINE POLITO
A exceção à regra são as crianças, na maioria das vezes com roupas coloridas.
Ane
O Olivier Magny é de fato engraçadíssimo. O outro livro dele, Things Parisiens Like é muito bom. Ele tem uma empresa chamada O Chateau, de degustação e aulas sobre vinhos franceses e fazem passeios de degustação de champagne no Sena.
Alex Maria
Levei alguns dias para perceber que em Paris, pelo menos no inverno, os casacos são cinza, pretos, azul-marinho, ou marrom fechado. Andei 2 dias de casaco azul-claro!
Mas depois de perceber o furo, não aguentei, peguei o Metrô e fui na Decatlhon, em frente a igreja de la Madeleine, e comprei um casaco azul-marinho. Aí sim me misturei com o povo.
Laura
Eu li o livro e amei! Vale cada página.
Rodrigo Lavalle
Oi, Marcus, e eu achando que eles iriam cair no gosto das brasileiras e durar um bom tempo ainda. Que bom!!!
Marcos
Rodrigo,
aqui no Brasil os tais “sneakers” com salto interno – talvez o correto seria incluí-los na categoria “sneaker boots”, posto que nem mesmo são (“stricto sensu”) o que se pode genuinamente chamar de “sneakers” – meio que desapareceram também! E eu que achava que os tais “sneakers” seriam as novas “pata de bode” ou o novo Nike Shoxx… Sumiram rapidamente, para alívio dos “sneakerheads”: a coisa toda era um tanto ofensiva para quem leva minimamente a sério a cultura pop – e, por hiponímia, a cultura “sneaker”.
Estou cada vez mais convencido de que o mau gosto é uma característica internalizada e agregada à estrutura cognitiva da grande maioria dos indivíduos… Como explicar o fenômeno da “pata de bode”, do Nike Shoxx ou do (falso) sneaker? A regra seria o mau gosto? O bom gosto uma aberração? Longa vida aos aberrantes!!!