Reflexões sobre o ser europeu
Tive a oportunidade de morar vários anos na Europa, em diferentes países. Em Paris, foram quatro; em Londres, um e, na Suíça, moro há quase três anos. Volto e meia me pego refletindo sobre o ser europeu. Fico pensando sobre as coisas boas e as coisas ruins, sobre o que aprendi e assimilei e o que estranhei e decidi que não quero para mim. Listo abaixo as coisas boas, que me inspiram. Obviamente, essa é uma visão pessoal e generalista.
Aproveitando o sol durante a pausa do almoço em uma praça em Paris (foto: lembi no Shutterstock)
Ser europeu é ocupar o espaço público. Em Paris, em Londres e na Suíça, basta aparecer um raio de sol tímido, para praças, jardins, florestas e margens dos rios e lagos serem tomados por uma multidão. É compartilhar o mesmo espaço com gente de todo tipo.
Verão às margens do Sena, na Ilha Saint Louis (foto: paolofur no Shutterstock)
É não dar importância para o carro. Como os transportes públicos funcionam bem, carro pra que? Só se for pra ter dor de cabeça estacionando, não podendo beber, ficando parado no trânsito. Detalhe: o ex-presidente da confederação suíça ia para o trabalho de trem, sem guarda costa nem assessor nem nada.
Para quem dirige, é aceitar limites de velocidades baixos em perímetros urbanos. Às vezes, baixíssimos. Na Suíça, a experiência de dirigir chega a ser transformadora. O carro não tem preferência nunca – pedestres e ciclistas são os reis. Com isso, o trânsito não flui, mesmo sem carros nas ruas. E isso é ótimo, acredite! Como não adianta ter pressa e não se pode correr (em muitos lugares, o limite máximo é de 30km/h), dirigir deixa de ser estressante. Sou uma motorista zen desde que me mudei para a Suíça.
Ciclistas em Paris (foto: SASHAandLENKA no Shutterstock)
É andar de bicicleta, uma ótima alternativa para o escuro do metrô. Uma ótima maneira de começar o dia, vendo a cidade, a natureza, o céu, as estrelas. É agradecer por ciclovias, mesmo quando elas atrapalham o trânsito. É agradecer por ruas exclusivas para pedestres, por cidades pensadas para as pessoas, e não para as máquinas.
É curtir sair cedo do trabalho para ir encontrar os amigos e a família.
É aceitar que, aos domingos, as coisas fecham – daí, vamos para os jardins, para o rio. Aliás, férias são sagradas. Agosto, mês de verão, restaurantes, lojas e empresas simplesmente fecham as portas para que seus proprietários e funcionários possam ter férias.
É não frequentar shopping centers.
É consumir menos.
É festejar o aniversário do filho com um piquenique simples na floresta, um lanchinho em casa para os amigos.
É achar que os serviços domésticos são para todos. E não que certa parte da população nasceu isenta de limpar banheiro enquanto outra nasceu justamente para limpar banheiro.
É aceitar que os serviços domésticos devem ser remunerados adequadamente.
É cozinhar.
É decorar a sua própria casa com objetos que têm uma história e fazem sentido para você.
É aceitar com mais naturalidade a diversidade (eu sei, extrema direita tá aí, mas esse problema não é exclusividade europeia).
RER para Versailles
E o RER para Versailles do título, o que tem a ver? Outro dia, alguém nos disse que o Conexão Paris é um blog que ensina as pessoas a ir de RER (trem) para Versailles. E fiquei pensando: “será que é assim que o Conexão Paris é visto, de maneira tão reducionista?”
Obra do artista Olafur Eliasson em Versailles em 2016
É verdade, incentivamos nosso leitor a pegar o trem para ir até Versailles. Também. O Conexão Paris é um blog de lifestyle – damos dicas do que fazer e falamos sobre como se vive nessas bandas de cá. Pegar o trem até Versailles, ver as exposições de arte contemporânea que se instalam no castelo a cada verão e depois almoçar no restaurante do Alain Ducasse ou fazer um piquenique nas margens do lago do parque do castelo, é um forma de visitar Versailles de outro jeito. É a experiência completa que buscamos oferecer.
Ore, restaurante do chef Alain Ducasse em Versailles
Dia desses, escrevo sobre o outro lado do ser europeu.
27 Comentários
marcy
Obrigada Rodrigo.
Vcs sempre atenciosos.
Rodrigo Lavalle
Marcy, estamos sempre à disposição.
marcy
Correção: “isso é que é vida”.
Tb. gostaria de saber quem escreveu.
Parabéns C.P – sempre agradabilíssimo.
Abçs
Rodrigo Lavalle
Marcy, quem escreveu o texto foi a Mariana Berutto, filha da Lina Hauteville, criadora do Conexão Paris.
marcy
Ótimo texto. Diria q “isso é que vida”. Natural, organizada, real. Concordo c as afirmações.
Concordo q o C.P é precioso em informações, dicas ajuda, cultura,etc.
Eloisa Cruz
Adoro o Conexão Paris. Queria poder estar na cidade para poder aproveitar todas as dicas. Ele vai muito além das expectativas e nos faz sonhar com novas viagens, novos passeios e eventos culturais.
Dizer que ele só ensina a ir a Versailles, é, no mínimo ridículo. O Conexão é completo em todos os sentidos. De moda a culinária, dicas práticas como ir a Versailles, que diga-se de passagem é um dos castelos mais lindos da França, ou seja, passeio cultural, dicas culturais de exposições, óperas, e afins. Resumindo , o Conexão Paris é completo, uma agradável leitura diária!!
Rodrigo Lavalle
Eloisa, muito obrigado pelo depoimento e pela audiência.
Viviane Pinheiro Machado
Bárbaro !! Sempre bárbaro os textos da C P !
Aprendi e aprendo sempre com vcs !
Obrigada
Carolina
Lindo texto! reflete exatamente o que eu penso da Europa, sem morar aí. Vou todos os anos e cada vez que vou, a vontade de ficar aumenta. O sentimento de “pertencimento” aumenta. E pra quem já gosta de Paris, sugiro NÃO ir para a Borgonha, rs! Lá é ir e querer ficar. Pra sempre.
neusa mari
Parabenizo vocês por nos transportarem a Paris em cada relato .Da próxima vez que for a Paris pretendo ir a Versailles de RER .Depois relato a experiência . Agradeço as orientações .
Isabela Almeida
Gente! Quem é o autor desse artigo? Meus Parabéns! Texto maravilhoso!!! Digo e repito que os textos sobre comportamento e cultura são os que mais me fascinam! Parabenizo mais uma vez a equipe CP em geral pelo conteúdo cuidadoso, profissional (ao mesmo tempo amoroso) e tão amplo e diversificado. Bjs a todos!
Lisete Dal Mas
Estive apenas uma vez em Paris, minha única vez na Europa também. Com está minha pequena experiência, durante os 10 dias que estive por lá, pude perceber exatamente todos os lados bons relatados no texto, me pareceu que os franceses levam uma vida mais simples, sem se importar com ostentação, aproveitam a cidade, achei o máximo. Claro que foi uma amostra muito pequena, mas fiquei encantada com a cidade, fui bem tratada e sonho com o retorno o mais breve possível!
César Aragão
Excelente texto,mas gostaria de ler também suas percepções negativas,seria interessante.
Como viajante habitual e observador já consigo detectar algumas coisas que não são legais,mas queria muito saber de quem mora ai.
www.operacaofranca.com
É uma vida tão diferente, né? Mas no fundo, tão mais simples… adorei o artigo!
MARIO GURGEL
Vocês são muito mais do que isso Lina !!!
Conseguiram o que muitos cientistas tentam sem sucesso até hoje : Teletransportar as pessoas !
Obrigado querida !!!!
Patrícia Campos Lima
Que post maravilhoso, primoca! De uma sensibilidade linda….. me vi em várias coisas que você citou! Ah, como gostaria de morar aí um tempo!
Beijo no coração!
Ronélia Moreira
O Conexão Paris nos remete através da qualidade e clareza, objetividade e riqueza de informações em suas postagens, a própria viagem. Parabéns à equipe!
Therezinha Martinst
AMO PARIS.!!!!!Acompanho o blog CP sempre.Maravilhosas dicas.Andar e conhecer PARIS como um cidadão francês.Na próxima vkagem a PARIS,com certeza vou usar as várias dicas d blog CP.Amei as dicas sôbre MONTMARTRE. Abraços.❤❤❤
Carla Bueno
Não fui de trem só para Versailles como tb para Le Vale Village, Eurodisney, e Giverny e lá ainda fiz o resto do percurso de bike, como nos ensinaram aqui, esse ano volto a Paris pela minha quinta vez e só tenho a agradecer ao Conexão por nos ensinar a ver Paris como ela é.
LINDA!!!!! Obrigada Pessoal!!
Ah!!!!! Texto Maravilhoso. E se pudesse moraria na Europa, não conheço tantos lugares quanto quero, mais um dia chego lá.
Marcelo - Cybermod
Sigo o conexão paris exatamente pelo nome. Ele faz a conexão com a capital francesa da melhor forma possível: com prazer! Prazer em rememorar momentos únicos. Momentos que sempre quero reviver. Obrigado, Lina e colaboradores.
Dillemba
Absurdo! O CP me ensinou a chegar em Paris como se eu fosse de casa. Como se comportar ao chegar ao restaurante, onde ficar nos corredores do metrô e nas escadas rolantes, o restaurante estrelado após a visita à Giverny, a questão das gorgetas, a Place Furstenberg e outras pracinhas de bairro, o melhor chocolate quente de Paris, como ir nos restaurantes estrelados sem ir à falência (Tous au Restaurant), o que é bom e o que é pega-turista, ah! tantas coisas que não há como descrever tudo. Blog de ensinar a ir a Versalhes? Me poupe!
Lisiane
Excelente texto, especialmente a parte do RER para Versailles…
Essas são as minhas exatas frustrações de morar por aqui.
E mesmo sem ir a Paris sempre, continuo fã desse blog, acessando-o frequentemente… e já estou curiosa para o próximo texto da sequência.
Abraço fraternal a todos.
Esther
Amei o texto. Assim como amo o blog, as postagens e vídeos do ig e snap.
Qd cheguei a Paris parecia que eu já conhecia a cidade. Por outros olhos, é claro.
E de reducionista o blog não tem nada.
Amo!
Yeda
Para mim, que leio o blog desde o início, a essência é esta mesma: abrir nossos olhos e coração para uma verdadeira vivência européia. Tenho sempre aproveitado estas dicas ao máximo e agradeço pelo fato de estarem sempre abertos a compartilhar conosco.
Maria das Graças
Como é difícil encontrar pessoas que pensam e colocam as coisas nos seus devidos lugares.
Hugo Alves Salvater
Que postagem maravilhosa e inspiradora!
Adoro o Conexão Paris por que, além de nos dar informações práticas e objetivas sobre tudo (inclusive RER para Versailles), nos proporciona esses deliciosos momentos de leitura e reflexão, fazendo nos apaixonar ainda mais por Paris e pela Europa.
Parabéns a todos os envolvidos!
MonicaSA
Sigo o Conexão desde sempre exatamente por isto: ensinar como ir a Versalles de RER e almoçar no restaurante do Alain Ducasse. Por estas e por outras o CP é tão especial.