Artigo escrito por Tom Pavesi
Às 7 horas, terça-feira, 22 de agosto de 1911, o guarda de segurança, Poupardin, começou sua ronda habitual passando pelas várias salas do Louvre. Chegando ao famoso “Salon Carré”, conhecido na época pelos quadros de renascentistas, percebeu que, entre um quadro de Titien e um outro de Corrège, encontrava-se apenas um espaço vazio e quatro parafusos perdidos. Sabendo que a Mona Lisa deveria estar ali, pensou que o fotografo oficial do Louvre havia pego o quadro para ser fotografado no atelier do museu.
Mas o tempo foi passando e nada do quadro voltar para o seu lugar. Poupardin resolve enviar colegas para recuperar a obra no atelier e neste momento descobre que a tela não está lá. Desesperado, sai procurando a moça misteriosa. Às 14 h, o prefeito de Polícia de Paris, o famoso e popular Louis Lepine, é chamado às pressas.
Este envia ao local sessenta inspetores de policia e um renomado criminalista em busca de pistas. As 14h45 as portas do museu são fechadas com exceção de uma para filtrar a saída de todos. O motivo dado ao publico foi um problema de canalização d’agua. Em Paris, a população ainda não sabia de nada sobre o roubo.
O museu é vasculhado do subsolo ao telhado e finalmente uma pista é encontrada bem embaixo da escada da “Vitoria de Samotrace”. Lá estava a valiosa moldura de madeira renascentista, o vidro de proteção (novidade na época contra vandalismo) e uma impressão digital bem visível. Os 257 funcionários que estavam de serviço foram interrogados e tiveram suas impressões analisadas. Ninguém foi acusado.
Dia 26 de agosto de 1911 a notícia vira matéria de primeira pagina. O jornal Le Petit Parisien relata o roubo em duas paginas; Le Matin oferece 5 000 francos aos videntes, numerólogos, cartomantes ou qualquer outra ciência oculta para se encontrar a famosa obra. A Sociedade dos Amigos do Louvre oferece 25 000 francos para quem a achasse. Um milionário anônimo oferece o dobro. A revista L’Illustration oferece 50.000 francos para aquele que levar o quadro até a editora.
Semanas depois o museu reabre ao público e uma multidão corre para ver o espaço vazio do quadro. Alguns deixam flores como símbolo da perda de um ente querido, outros correm comprar recordações e cartões postais da obra desaparecida.
A busca se alonga até o mês de setembro quando um juiz manda prender um escritor de origem polonesa, Guillaume Apollinaire, que havia declarado que gostaria de ”queimar o Louvre”. Gery-Pieret, amigo e antigo secretário particular de Appolinaire, ladrão confesso de três estatuetas ibéricas e máscaras fenícias do museu, declara ao Paris-Journal que foi ele quem furtou a Mona Lisa e que somente a devolveria em troca de 150.000 francos. E para provar que não estava mentindo enviou uma das três estatuetas roubadas para o jornal.
O jovem Pablo Picasso também foi interrogado e acusado de cumplicidade pois havia comprado para estudos (influência do primitivismo) uma estatueta e uma máscara fenícia de Gery-Pieret. O roubo também foi reivindicado pelo poeta, escritor e dramaturgo italiano Gabriele D’Annunzio, autor de uma peça de teatro intulada La Giocconda. Finalmente, todos são inocentados. Mas 28 meses depois quando tudo parecia perdido, a famosa obra aparece em Florença.
O verdadeiro ladrão, o autor de um dos roubos mais famosos da história da art, se chamava Vincenzo Peruggia, italiano, que na época trabalhava no museu como colocador de vidros em obras de pintura. Ele havia passado a noite do 21 de agosto escondido no Louvre esperando o amanhecer para roubar a Mona Lisa e sair discretamente. Nas investigações iniciais, a polícia chegou a interrogá-lo. Com uma falsa testemunha ele provou que no dia do roubo estava trabalhando em outro local. Durante estes 2 anos Peruggia continuou vivendo em Paris e teve a Gioconda somente para ele.
O tempo foi passando e, quando ninguém falava mais sobre o roubo, Vicenzo decidiu voltar para Itália com a esperança de vender a obra para algum colecionador local. Em 10 de setembro de 1913 propôs à um célebre antiquário florentino, Alfredo Geri, a venda da Mona Lisa por 500.000 liras. Geri, se fazendo interessado, levou um amigo expert para analisar a obra. Imediatamente, os dois, denunciaram Peruggia à polícia. O ladrão foi detido e o quadro confiscado.
Quanto a Geri e Poggi, estão até hoje esperando em seus túmulos a recompensa prometida pelos franceses.
Durante o julgamento, Peruggia confessou que roubou por patriotismo. Ignorando que o quadro havia sido adquirido pelo rei Francisco I, em 1519, tinha plena convição que havia sido roubado por Napoleão Bonaparte I e que era seu dever como cidadão italiano de recuperar esse tesouro.
Seria condenado a um ano e 18 meses de prisão, mas logo liberado. Uma parte da imprensa e da população considera-o um herói da nação, para outros apenas um aproveitador que tentou fazer riqueza com um bem nacional.
A Mona Lisa voltou a ser exposta no Louvre no dia 4 de janeiro de 1914, altamente protegida e visitada por milhares de pessoas.
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58 Comentários
kemeli
venceu mesmo ne
Bianca
Muito interessante, sabia por alto do roubo da Gioconda, mas não sabia dos detalhes… Obrigada!
larisa manuela
amei acho muito enteresante
Luciana
Tom voce nos fez conhecer os bastidores da historia de uma maneira totalmente interessante.
Voltar ao Louvre com voce é a maneira mais inteligente de aprender…….. Adorei!! Cade o proximo? Estou esperando
Valeu!!!!
Thales
Muito bom, texto curto e objetivo, só poderia ter vindo do Tom mesmo. Magnifique.
Adriana
Estive no Louvre, mas nao tive coragem de enfrentar aquela fila. Desisti e nao me arrependo, pois as fotografias que fiz no lado de fora ficarao maravilhosas e lindas.
Nilo
José Rodrigues, a grande questão é: onde está o noivo?
No lugar central temos Cristo, o milagreiro. O noivo (e a noiva), não sei.
Quanto à comparação entre as obras, somente se sustenta pelo contraste; de resto, são obras distintas. Fica o gosto pelo não gosto.
josé rodrigues
Corrigindo a informação.
São 6,66 de altura e 9,90 de largura.
josé rodrigues
Pessoalmente acho um quadro supervalorizado que não vale a confusão para sua visualização, é lindo mas não é a maravilha que se prega.
Acho o quadro da frente, o Bodas de Caná infinitamente superior, ressalvado que são estilos e dimensões totalmente diferentes.
O bom é que enquanto a turba fica se empurrando para ver um dá para apreciar o outro quase sem nenhuma interferência.
Salvo engano a largura é de 7 metros e a altura entre 4 e 5 metros.
O mais interessante é que depois que se localiza o noivo no quadro sua figura fica em destaque e atrai o olhar imediatamente.
Abraços
Eymard
Tinha que ser a Adriana para responder o quiz! Bravo. A desproporção entre as telas e a sua popularidade è notória. Sempre me chamou atenção essa estratégia do museu.
Madá
Adriana e Beth, vcs duas tem razão rsrsrs.
Segue um link de video amador que mostra a tela e a multidao.
http://www.youtube.com/watch?feature=endscreen&NR=1&v=VYPB32YpdMw
Adriana Pessoa
Beth, Eymard e Madá:
sim, na parede oposta a onde está a Mona Lisa, está a tela de Veronese, Bodas de Caná.
Bjs.
Beth
Eymard
Não tem parede oposta ã Mona Lisa!
Mas sim uma horda de turistas orientais, europeus e brasileiros se acotovelando para ver a Mona Lisa… rsrs
Madá
Eymard, é a coroação de Napoleão! De fato ela pega a parede inteira e a contemplação fica prejudicada, pois não há muito espaço para se distanciar e apreciar, adoro essa tela e seus detalhes.
Eymard
Interessante observar a parede do lado oposto em que está a Monalisa. Alguém se lembra qual é a tela e o seu tamanho?
Beth
Lina
Não dá para ler os últimos comentários sobre o post…
Abs!
Amélia
Como sempre CP é mais!!! Sempre achei que este rouba havia sido mais recente, acho que guardei na memória o ataque feito no Japão! Adorei saber estes detalhes, pois, para quem tem um marido restaurador e perito de obras de arte, estas informações são muito valiosas! Agradeço ao Tom e a Lina.
Livia
muito interessante! Adorei saber e adorei mais ainda que ela foi recuperada!
Ricardô
Lina, é através de posts como este que eu estou “catequizando” minha mulher e meus amigos a se tornarem fãs do CP. Parabéns pelo novo layout do site.
Beth
Tom
A “Mona Lisa” saiu do Louvre em dezembro de 1962, daí eu ter encontrado uma plaquinha no lugar à ela destinado no Museu. Vim a conhecê-la pessoalmente em setembro de 1963, quando ela voltou sã e salva da sua 1a. viagem internacional…
Antes dela embarcaar para os EUA passou por um processo especial de proteção, segurança, etc…
Ó France foi acompanhado durante toda a viagem por navios da marinha francesa e americana…
Abs.
Adriana Pessoa
Lina,
mas vc está vendo que Florença e Paris estão conectadas!!
Bjs.
Tatyana Mabel
Texto formidável!!! Parabéns!
Marcia Lube
Muito interessante.
Não conhecia a história.
E o complemento da Adriana, Beth e Tom, fizeram o post ficar mais bacaninha ainda !
Tom Guia do Louvre e Versalhes
Beth, complementando seu post, a Mona Lisa atravessou o Atlântico a bordo navio ‘’France’’, em 1963. Chegou em Washington para ser exposta no ‘’National Gallery’’, com a presença do casal Kennedy na inauguração. Depois viajou para o Japão em 1974, exposta no museu Nacional de Tóquio, agredida por uma deficiente, que jogou tinta vermelha na obra. Nada de grave, o quadro estava protegido com um vidro. Na volta desta viagem, ainda passou pela União Soviética, exposta no Museu Pouchkine, em Moscou, para milhares de pessoas que imaginavam que nunca poderiam vê-la algum dia em Paris. Depois dessa volta ao mundo, a moça nunca mais saiu do Louvre.
Malu, obrigado pela sua participação hoje no Louvre e seu simpático comentário acima.
Lina, obrigado pelo espaço concedido.
Abraços à todos. Tom
Alessandra
Ah, e a historia do roubo da Monalisa é digna de Hollywood. Que louco!
Maria Helena Ranghetti (Lenna)
Realmente, a Monalisa, por muitos considerada sem graça, tem uma estrela especial. Acredita-se que em função desse roubo e também por que há muitas especulações em torno de quem foi a modelo da obra…
Alessandra
La Gioconda..
O Louvre têm muito mais do que a Monalisa. A parte egípcia, por exemplo, tem mais artefatos que no próprio Egito. Fiquei impressionada com tanto material. A Mesopotânia, nem se fala! Fico pensando como aquelas gigantescas esculturas foram para lá. E a Vênus de Milo, Antiga Grécia. Visitar o Louvre é obrigitório assim como D’Orsay. Vale a pena perder horas percorrendo ambos. Será inesquecível.
Adriana Pessoa
Fui pesquisar sobre a Mona Lisa em Nova Iorque.
Vejam isso:
http://artblogbybob.blogspot.com.br/2009/01/sophisticated-lady.html
Adriana Pessoa
Beth…mas que história essa!! Fiquei super curiosa para saber mais!
Bjs.
Malu bozzola
Soubemos dessa história antes de lermos no Conexão Paris! Hoje fizemos o Louvre com o Tom e foi fantástico! Saber sobre o roubo do quadro olhando para o próprio! Um grande abraço!
Beth
Na Ia. vez que fui ao Louvre a Mona Lisa estava viajando…
Foi aos EUA, à convite da então Ia Dama americana, Jackeline Kennedy…
A travessia do Atlântico foi espetacular, num navio de guerra mais escolta. Cena de filme!
jorge fortunato
Essa é a grande dor dos italianos, nao ter la Gioconda entre eles. Acho que Mona Lisa é a razão que atrai milhares de turistas ao Louvre. Dificilmente a sala estará vazia. Que enroedo sensacional esse do roubo. Imagino as conversas da época.
HELIO JR
A primeira imagem da Monalisa impressa em minha mente é a de Andy Warhol, culpa de uma prima mais velha que possuia em seu quarto reproduções gigantescas e coloridas do ícone. Isso há 30 anos…Talvez por isso a considere pop demais, quase over. Talvez por isso tenha sido decepcionante “ve-la”a quilometros de distância, tão pequenina, tão assediada, atras da jaula de vidro em que jaz no Louvre.
Cláudia Oiticica
Essa estória toda é muito interessante. Tem um filme que assisti sobre esse fato. Acho que o nome é O Roubo da Gioconda. É um filme dos anos 60, meio teatral, mas vale a pena pelo que relata.
Rosalia Velloso
Eu também vi a Monalisa na época em que ela era menos vigiada e nunca mais me interessei em vê-la de novo…
Interessante o fato de o Picasso ter sido investigado como suspeito do roubo, não sabia que a má fama dele vinha desde jovem (mandava o mordomo roubar obras de arte e tirava o corpo fora se algo desse errado). Adoro as obras dele, pena que a genialidade nem sempre vem associada a um bom caráter…
Tania Baião
Adorei a história toda.
Já havia lido alguma coisa no livro “O Infiltrado” de Robert K. Wittman, fundador da equipe de crimes contra a arte do FBI.
Também adorei a história da Adriana e espero que ela nos traga mais capitulos…
Elvira
Muito legal! Eu não sabia qua a Monalisa havia sido roubada.
Bjs.
Elvira
Madá
Muito bacana a forma como a historia foi contada. Adorei os detalhes da Itália. Pude ver a Monalisa pela primeira vez em 1973, ela tinha muito menos proteção do que hoje, dava para chegar perto e não tinham as setinhas indicando o caminho até ela…
Adriana Pessoa, também gostei da sua história, quando vc voltar traz mais detalhes pra gente aqui.
angelica monnerat
Parabéns..tá linda a nova página!BRAVO!
Carol Patrício
Que história interessante! Me lembra um pouco do filme “Como roubar um milhão de dólares” (1966), com a Audrey Hepburn. O novo layout ficou lindo, o Conexão está cada vez melhor!
Gustavo - Viajar e Pensar
Parabéns pelas mudanças, ficou muito bom!!
Dois anos com a Monalisa exclusiva, que demais egoísta.
@GusBelli
Marzelena Zamboni
Adorei a história, não tinha conhecimento desse fato até agora, de fato renderia um belo filme.
Quando cheguei na sala da Monalisa já estava tão cansada que não tive coragem de enfrentar aquela multidão pra ver o quadro de perto, mas foi divertido ficar assistindo meu marido se esgueirando entre todos até chegar perto do quadro, pois pra ele o ponto alto da visita ao Louvre era a ver o quadro da moça com sorriso enigmático. O Conexão Paris é turismo e cultura.
Juliana Straehl
Oi Lina,
Leio o seu blog todos os dias desde a primeira vez que fui para Paris. Adorei as novidades e este post ficou ótimo. Parabéns.
Augusto Souza
Ana Carolina, boa viagem e esquenta Paris lá, hein! Tá frio demais pra mim, sou acostumado com 30º aqui em Natal hahahaha.
Nilza Freire
Lina e equipe, o blog ficou maravilhoso! Enxuto e bem separado por assuntos, permitem uma navegação rápida e agradável, um verdadeiro gol de placa! Muita sorte!
Lizzie
Que bacana, não conhecia! Mais uma das histórias encantadoras da cidade, e são tantas! Parabéns pelo novo visual do blog, tá lindo
http://www.surtandoemfrances.wordpress.com
Ana Carolina
Olá Augusto, estou indo este sábado e retorno no dia anterior da sua chegada, dia 27.
Halana
Uau!!! Ficou lindo o site! Adorei.
Parabéns Lina e equipe.
Fernanda Leitão
Lina e equipe, como sempre vocês estão de parabéns. Adorei a nova cara do site.
Augusto Souza
Ana Carolina,
Qual período da sua viagem? Estarei por lá em lua de mel entre 28/05 e 03/06.
Aurea Costa
Li uma vez que a fama da Monalisa aumentou muito depois desse roubo. Nao sabia da historia contada com tantos detalhes. Daria um otimo filme mesmo!
Ana Carolina
Concordo com Augusto. Estarei em Paris nos próximos dias e fiquei empolgada com esta leitura, a visita ao Louvre vai ser interessante!
Flávia Carioca
Que história incrível! Uma história policial que merece um filme!
Adriana Pessoa
Sabia da história do roubo, mas não contada assim detalhadamente. Texto empolgante, enriquecedor e na hora certa,pois estarei ao lado da Villa Vignamaggio, na Toscana, em outubro. A Villa Vignamaggio é o local onde os historiadores supõem ter vivido a Mona Lisa, que seria a mulher de um rico mercador de Florença, que encomendou a Leonardo da Vinci, a pintura.
Abraços.
Lina
Adriana
Então a Toscana venceu!
Mariana
Adorei!!!! Não sabia deste acontecimento!!!
Augusto Souza
Muito mais legal conhecer um lugar, uma obra, quando se conhece histórias como essa.