Dias desses estava jantando com duas amigas brasileiras e, durante bastante tempo, o assunto foi a vida sexual passada e presente de ambas. A situação me fez lembrar de uma terceira amiga – também brasileira – que costumava dizer que no Brasil as pessoas têm mais pudor em falar sobre dinheiro (quanto ganham, quanto gastam) do que em contar detalhes de suas práticas sexuais. Segundo ela, em uma roda de amigos, é considerado mais indiscreto e deselegante perguntar sobre o salário de um dos presentes do que perguntar sobre suas preferências no sexo. No meio disso tudo voltei à infância e lembrei também do meu pai que nunca revelou o quanto ganhava de salário e respondia dizendo que esse assunto é confidencial.
É mais tabu falar sobre dinheiro do que sobre sexo? (foto: Shutterstock)
E parece que na França a situação é similar. Poucos dias depois desse jantar, me deparei com um artigo dizendo que entre os franceses é mais tabu falar sobre dinheiro do que sobre sexo. A autora da matéria, a jornalista francesa Charlie Vandekerkhove, diz que sabe mais da vida sexual do que da vida financeira de seus amigos. Ela conversou com a socióloga e pesquisadora Janine Mossuz-Lavau, autora do livro L’Argent et nous (O dinheiro e nós), que atribui tal fato à influência do catolicismo e do marxismo na sociedade francesa.
Apesar da imensa riqueza da Igreja Católica, o catolicismo é, na sua base, uma religião que surgiu entre os pobres e desfavorecidos. Os ricos eram vistos com ressalva e desconfiança. O importante é levar uma vida humilde. Não por acaso os padres fazem voto de pobreza.
Conceito semelhante foi introduzido na França nos anos 20 e 30 pelas ideias marxistas e a simplificação de que o lucro é algo ruim ou do mal.
Enquanto isso, em países protestantes como os EUA, enriquecer significa ter perseverança, se empenhar, correr atrás dos sonhos e, finalmente, vencer na vida. O paraíso capitalista.
Além desses dois fatores, há também, na França, um certo esnobismo intelectual em não gostar de falar de dinheiro, como se o assunto fosse vulgar. Em várias situações sociais já ouvimos frases como “l’argent pue” (o dinheiro fede) ou “elle/il pue l’argent” (ela/ele fede a dinheiro, se referindo a alguém com sinais exteriores e ostensivos de riqueza).
Mas, no fim, o que conta mais é o coeficiente de entretenimento dos dois assuntos. O que é mais divertido? Ouvir um amigo contar suas aventuras e problemas romântico-sexuais ou ouvi-lo se lamentar da falta de dinheiro ou se vangloriando do quanto ganha?
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7 Comentários
MonicaSA
Vivemos hoje a era Selfie, ou seja, exposição total.
Eu como sou da old school, cultivo a seguinte regra: privacidade ampla, geral e irrestrita. Au revoir.
marcialube
Perfeito Maurício Christovão !
Mauricio Christovão
Acho que depende do que se fala e com quem…
Maira
os ingleses também têm a expressão filthy rich!
jorge fortunato
Eu falo de tudo, mas não com todos… e aí está o segredo.
Clemeilda
Minha educação foi baseada em não se falar abertamente sobre nenhum dos dois assuntos…mas aí crescemos e mesmo assim, ainda vejo o incomodo de se falar sobre ganhos mais que perdas do que abertamente sobre as picantes e devassas vidas privadas…
Xandão Oliveira
Nenhum dos assuntos interessa ao público em geral. Quem deve se interessar pelo meu sexo são meus parceiros e pelo meu dinheiro quem depende de mim.Tirando esses, qual interesse saber quanto eu ganho ou que faço na cama?