Marina Giuberti, sommelière responsável pelos cursos de vinho do Conexão Paris
Por Evandro Barreto
Li o texto e vi o vídeo da sommelière Marina Giuberti, responsável pelos cursos de vinhos do Conexão Paris, sobre os vinhedos franceses antes de dormir. E tive um sonho. Nele, eu acompanhava o noticiário da TV, entre indignado e deprimido com os massacres no Oriente Médio, nas escolas do primeiro mundo, nas periferias latino-americanas, quando a programação foi interrompida pela aparição de um extraterrestre. O ET falou diretamente comigo, como se eu representasse a humanidade inteira. Declarou-se enojado com a nossa barbárie e me exigiu uma prova – única que fosse – de que éramos uma espécie que merecia sobreviver.
Em pânico, a única reação que me ocorreu não veio da razão, mas do coração. Convidei o alienígena a percorrer comigo os vinhedos e caves da França, de Bordeaux à Alsácia, da Borgonha ao vale do Loire, da Provence a Champagne.
Começamos por Puligny e, no primeiro gole do Montrachet, os enormes olhos do ET cintilaram. Ainda na Borgonha, sucederam-se os pit stops: Gevrey-Chambertin, Vougeot, Vosnes-Romanée, Nuits-Saint-Georges – e as centelhas do olhar iam mudando de cor e tom. A essa altura, estávamos íntimos e, como o nome dele era impronunciável, passei a chamá-lo de GG, em homenagem a Galileu Galilei.
Na rota para Bordeaux, pedi que a nave fizesse escala em Reims, nos domínios de uma certa viúva, sobrenome Clicquot. Observando as borbulhas que subiam da taça, GG fez uma pergunta que jamais ocorreria a qualquer enólogo: “A gravidade neste ponto do planeta é mais baixa?”.
Terminamos o circuito em Pauillac. GG fixou o olhar por algum tempo na ilustração de Georges Mathieu estampada no rótulo, sorveu o último gole do Chateau Mouton-Rotschild 1961, e pronunciou o veredito:
“Nenhum ser capaz de extrair do solo tanta beatitude está irremediavelmente condenado. Concedo a vocês um prazo para tomarem jeito. Até a próxima visita do cometa Halley”.
Acordei sobressaltado e, tentando recuperar o equilíbrio, enchi um copo com o Sancerre servido no jantar. Foi então que, em nome de todos nós, sobreviventes sob vigilância espacial, ergui um brinde aos vitivinicultores e sommeliers deste minúsculo subúrbio do universo, idealmente representados por Marina Giuberti. E a ela dediquei uma saudação especial: com tanta expertise, sensibilidade e poder de expressão, ser bonita é quase demasia.
Evandro Barreto é um apaixonado por Paris. E apaixonado também pelas boas mesas. Dessas duas paixões, nasceu o livro Na Mesa Cabe o Mundo que você compra clicando aqui.
Descontos e presentes aos leitores do Conexão Paris
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10 Comentários
Cristiane Pereira
Mas que saudades que eu estava desses textos perfeitos do mestre Evandro!!! E é como diz aquela famosa frase: a vida é muito curta pra bebermos vinhos ruins! Tim-tim, saúde!
evandro barreto
Marina Giuberti, verter lágrimas de Montrachet é privilégio dos anjos! Merci e santé!
evandro barreto
Companheiras e companheiros da boa cave, GG e eu interrompemos nossa discusão sobre qual seria o próximo Chateau a visitar – La Fite ou Margaux – para agradecer enternecidos a recepção de vocês ao noss tour onírico. Sonho também é cultura!
Madá
Dodô, seu brinde também chegou por aqui! Tim-tim!
Viajei também como a Lena e fico pensando em alguns tesouros que guardamos, envelhecem, esperando aquele dia especial… Ou quem sabe para provar ao GG que vale a pena.
Lena
Continuando, aplausos e tim-tim!
Lena
Dodo! Nem preciso dizer que fiz uma viagem pelos “domaines” destas regiões através do teu texto! Bem aventurado o ser humano que tem a dádiva de provar estas delícias E eu, feliz, me incluo…
Mauricio Christovão
Dodô: Belo texto. Se me permite, gostaria de citar Omar Khayam, poeta persa do século XI, que disse num dos seus versos:
” Não há verdades na vida,
mas há evidentes mentiras.
Se os amantes do vinho e do amor vão para o Inferno, vazio deve estar o Paraíso.”
Carol Magalhães
Adorei o texto Evandro Barreto, quanta sensibilidade vc tem ! Concordo c vc, essa sommelier Marina Giuberti é especial! Muito bom CP.
Marina
Querido Evandro, quanta honra fazer parte de um texto lindo deste, e com uma verdade intrínseca, sim através do vinho podemos esquecer os problemas e ser mais felizes. Pude até visualizar os olhos arregalados do GG ao degustar o Montrachet, pois eu mesma chorei de emoção com um 1977 na DRC. Santé & Merci !!
Ana Maria Rios
Bendito seja o vinho, que resgata a humanidade da destruição total.