Ao longo destes anos, percebemos o grande interesse dos nossos leitores pelos relatos de como é se mudar e viver em Paris. Diante desta curiosidade, decidimos fazer uma série de entrevistas com brasileiros que moram em Paris. São tantas histórias diferentes – algumas, incríveis; outras, normais; algumas, engraçadas; outras, trágicas. Muita coisa nos traz para cá e cada um vive a cidade de uma forma diferente. Nosso objetivo é mostrar a Paris pelo olhar do brasileiro que mora aqui.

A primeira entrevista foi com Artur Ávila, matemático brasileiro que recebeu a medalha Fields (leia aqui). A segunda é com Daniella de Moura, artista e pesquisadora formada pela Escola de Belas Artes de BH. Dani mudou-se para Paris em busca de formação acadêmica e, desde 2012, recebe uma bolsa de doutorado pleno pela CAPS. Com 30 anos, seu trabalho pode ser considerado bizarro por muitos. Daniella propõe uma retomada do corpo na arte, fazendo uma referencia ao movimento feminista dos anos 60 e 70.

Entrevista por Fernanda Hinke. Fotos por Alfredo Brant.

Dani Moura, durante a entrevista em um café em Paris

Dani Moura, durante a entrevista em um café em Paris

O que te trouxe a morar em Paris?

Eu me mudei para Paris em busca de formação acadêmica. Tive que aprender francês no Brasil pois muitas referências bibliográficas na minha área eram em francês e não havia tradução. Eu cheguei em Paris em setembro de 2010 com visto de turista, meu objetivo era conseguir um orientador de doutorado. Aqui na França não existe prova de seleção para mestrado e doutorado, todo o procedimento é feito com cartas de intenção, projeto e encontros com possíveis orientadores.

Foi fácil se instalar e adaptar-se aqui?

Foi difícil! Cheguei em Paris muito ingênua, sem imaginar o enorme choque cultural que  sofreria nessa cidade lindamente inóspita. O meu orientador de mestrado era muito duro, muitas vezes grosseiro e arrogante com os alunos, fruto de uma hierarquia da academia francesa que eu não conheci no Brasil.

Os procedimentos burocráticos aqui na França são muito complicados, principalmente quando a língua representa uma barreira. Conseguir apartamento em Paris costuma ser uma epopéia, eu vivi aventuras dramáticas como quase ser despejada por sublocar (sem saber que era ilegal) um apartamento de uma pessoa que não pagava o aluguel há meses. Com o tempo e principalmente com a ajuda de amigos brasileiros que já moravam em Paris, fui aprendendo a lidar melhor com as burocracias e com as barreiras afetivas.

Dani, em sua casa que tem uma vista incrível de Paris

Dani em sua casa – que tem uma vista incrível de Paris!

O que você mais gosta em Paris?

Paris me seduziu pelo acesso à cultura. Freqüento museus, teatros, óperas, bibliotecas etc. Tenho oportunidades únicas de assistir seminários de teóricos que pesquiso e de freqüentar e participar de colóquios internacionais sobre questões extremamente relevantes à minha pesquisa plástica. A vida cultural de Paris é realmente rica, e o meu repertório artístico cresce diariamente. Paris também seduz pelo paladar, a culinária é incrível, eu desenvolvi um verdadeiro gosto pela cozinha morando em Paris. No início do ano passado,  Paris roubou de vez meu coração, fui seduzida não só pela França mas também por um francês.

O que você menos gosta em Paris?

Paris pode se revelar uma cidade muito dura, as relações humanas são frias, os parisienses costumam ser fechados e muitas vezes mal educados. Fazer amigos em Paris não é nada simples, os protocolos sociais não deixam muito espaço para a improvisação, é preciso ter paciência e insistir bastante para conseguir estabelecer vínculos afetivos sólidos. Outro aspecto que me incomoda muito é a moradia, os apartamentos são extremamente caros e pequenos. Meu primeiro apartamento aqui tinha 18m2.

Dani em sua apartamento, que é onde ela trabalha. Ao fundo, suas obras.

Dani em sua apartamento, que é onde ela trabalha. Ao fundo, suas obras.

Como é sua relação com os franceses? Como é seu circuito de amizades?

A maior parte dos meus amigos são brasileiros, na universidade e no meio artístico que freqüento as relações são muito profissionais e não tocam aspectos íntimos. Eu vivo com meu namorado francês, ele cresceu na Bourgogne e é bem diferente dos parisienses, muito aberto, caloroso e muitas vezes crítico em relação ao comportamento frio dos parisienses. Eu demorei um bom tempo para compreender a diferença entre os parisienses e os demais franceses. Hoje tenho uma relação equilibrada entre amigos brasileiros e franceses, mas sempre existem alguns choques culturais, os brasileiros parecem sempre um pouco ‘‘histéricos’’ perto da ‘‘politesse’’ dos franceses.

Conta pra gente um um pouco sobre o seu trabalho?

O meu trabalho artístico lida com o resíduo corporal, proponho uma espécie de reabsorção da matéria orgânica corporal pelo próprio corpo. Realizei diversas peças de tecelagem artesanal de cabelos, dentro da pesquisa de mestrado raspei a cabeça e teci uma calcinha com os meus cabelos. Também produzo vídeos, instalações e performances. O meu trabalho lida com o toque, com o corpo e seus restos, questões tabu entre grande parte dos franceses. Atualmente sou representada pela galeria francesa Starter.

Calcinha tecida com fios de cabelo, obra da artista

Calcinha tecida com fios de cabelo, obra da artista

Qual a sua rotina de trabalho?

Minha rotina é muito estimulante. Eu freqüento seminários e bibliotecas para o desenvolvimento teórico e a parte plástica eu realizo em casa ou na rua. Este ano participei de duas exposições coletivas em Paris, três colóquios (sendo um na Romênia),  fiz uma performance, publiquei dois artigos e fui a Marseille participar do festival de vídeo-arte Les Instants Vidéo.

Ao mesmo tempo,  me dedico a redação da tese que não é uma tarefa nada fácil, preciso chegar a um volume de 300 páginas impecavelmente redigidas em francês.

E o futuro, Brasil ou França?

O futuro será no Brasil, a contrapartida da minha bolsa de doutorado é retornar ao Brasil e trabalhar por três anos como professora ou pesquisadora. Tudo que eu mais desejo é retornar o investimento feito pelo meu país na minha pesquisa.  No Brasil falta um pouco de rigor e de profundidade teórica nas pesquisas, mas não falta qualidade artística. Entre os artistas brasileiros existe uma vontade de se produzir arte crítica e questionadora.

Defendo minha tese até o fim de 2015, retornarei em seguida ao Brasil levando comigo o meu namorado francês, pretendemos nos casar e fixar moradia definitiva no Brasil. A França terá sempre um lugar especial no meu coração e na minha pesquisa artística.

As preferencias de Dani:

Um lugar em Paris: Canal de l’Ourcq

Uma comida: mousse de chocolate

Uma artista: Lygia Clark

Um escritor/filosofo/pensador: Georges Bataille

Um museu: Quai Branly

Uma galeria de arte: Xippas

Uma cor que representa Paris: cinza

Um filme em Paris: Mauvais sang – Leos Carax

Uma personalidade Francesa: Simone de Beuvoir

Uma frase celebre: “ On ne naît pas femme : on le devient”  – Simone de Beuvoir

Se quiser saber mais sobre o trabalho da Daniella de Moura visite seu site: www.daniellademoura.com

Fernanda Hinke, a entrevistadora, é idealizadora dos passeios de bike do Meia Noite em Paris. Alfredo Brant é fotógrafo dos leitores do Conexão Paris.

 

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