Por Penélope do blog Sob o Céu de Paris
Quando eu trabalhava no programa MPBambas do Tárik de Souza, no Canal Brasil, tive a oportunidade de conhecer o compositor Nonato Buzar. Nonato é uma figura simpática, falastrona e é um daqueles casos de artistas brasileiros que fazem mais sucesso no estrangeiro do que aqui.
Em 1968, ele escreveu o hino da pilantragem Nem vem que não tem em parceria com Carlos Imperial. Ao final do trabalho, Nonato decidiu que não queria a música e cedeu todos os direitos para Imperial que, em retribuição, presenteou Buzar com um carro novo.
O que este último não sabia é que Brigitte Bardot, dois anos depois, gravaria uma versão francesa desta canção, que faria sucesso por toda a Europa e, naturalmente, renderia recursos para comprar muito mais do que o carro que Imperial lhe deu de presente na época da parceria.
Buzar ri desta história hoje, até porque, depois que ela gravou a música, ele foi morar na França onde teve a oportunidade de conhecer Bardot e chegou até a tocar violão na sua festa de 40 anos, como vocês podem ver na imagem abaixo.
Escute aí embaixo Tu veux ou tu veux pas, a tal versão francesa de Nem vem que não tem, de Carlos Imperial e Nonato Buzar.
Um pequeno P.S. nesta história:
Nonato foi parceiro de Chico Anysio em algumas canções e, durante a edição da sua entrevista, fiquei invocada com a sua aparência, tentando lembrar com quem ele se parecia. Depois de saber que seu nome é Raimundo Nonato, me ocorreu que ele se parecia era com o professor Raimundo, personagem de Anysio. Tivemos que regravar um pedacinho da sua entrevista e pude perguntar se a semelhança era mera coincidência. Sem dizer nada, ele apenas sorriu.
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25 Comentários
JOSÉ CARLOS PEREIRA DE SOUZA
E a vida, é vida, pois é Penélope, seis após a sua publicação teremos a satisfação de participar de um bate-papo em frances com a historiadora francesa Anais Flechet que sera realizado na AF Botafogo/RJ no proximo dia 06/11/17. adivinha qual o é tema?
“Madureia chorou….em Paris”
Jorge Domingos
Coloquei na busca “Ce Te Vas a Rio” , que a equipe francesa de “Orfeu do Carnaval” compõs utilizando a melodia de “Madureira Chorou”. Foi bom ver BB cantar o samba “Tu Veux Ou Tu Veux Pas”…
Beto Diniz
Sou conterrâneo de Buzar e fico cada vez mais orgulhoso de sua trajetória. Em outro blog li que ele tem o desejo de ainda voltar a morar na sua cidade natal, pois tem muitos amigos por aqui.
Penélope
Alice,
Eu moro no Brasil e visito Paris ocasionalmente. Infelizmente não sei quase nada do que toca de brasileiro na Cidade-Luz.
Dodô,
Como você é elegante e modesto! Se mudar de idéia, mande o endereço do seu blog, eu adoraria seguir.
Dodô
Maurício Christovão,
Ooooobrigaadoo! Mas continuo sendo amador no assunto música – e o único amador que deu certo no Brasil foi o Amador Aguiar, do Bradesco.
Agora, em matéria de lançamentos precisos, tiro o o boné para seus vizinhos da direita e da esquerda em Nichteroy-sur-mer: Zizinho e Gerson.
Corra para o abraço.
Dodô
Maurício Christovão
Dodô: Você pode até ser um “meia falador”, mas os seus lançamentos do meio de campo para a pequena área são sempre precisos…Ou seja, você bate um bolão, mô fio!!!
Dodô
Mariana e Marcos,
Fico alegre com a sugestão, e envaidecido também. Mas quando a gente tem o privilégio de contar com a Penélope, seu conhecimento de causa, sua sensibilidade e seu poder de mobilizar dezenas de comentaristas, cada qual trazendo informações e observações magníficas, pra que outro blog? O melhor que posso fazer nesse time é me escalar na posição inventada pelo João Saldanha: “meia falador”.
Abraços em dó maior.,
mariana berutto
Marcos, excelente idéia!
Marcos
Dodô, que tal um blog sobre música popular brasileira?! Dicas preciosas, as suas!
Ailce Kênia
Olá!
Eu estive em Paris em junho… E num bar, só tocava músicas brasileiras, mas nao dessas q tocam aqui. Era bossa, soul, dance… nao conheci, acho q nao conheço mesmo, pois sou boa em reconhecer voz… Vc tem indicações pra me dar do q tá tocando aí em paris, das nossas músicas? Era um som bem gostoso, bem balanço… Grata.
conexaoparis
Ailce
Eu não posso te ajudar. Talves a Penélope saiba.
Mauricio Christovão
Penélope: Por problemas técnicos, ainda não tinha conseguido ver(e ouvir) o vídeo da BB cantando. Linda!!! Completou meu domingo à noite, obrigado!!!
Dodô
“Madureira chorou
Madureira chorou de dor
Quando a voz do destino
Obedecendo ao divino
A sua estrela chamou”
O samba surgiu em clima de tragédia, com a população inteira chorando a perda de uma pessoa adorada.
Ou autores são Carvalhinho e Julio Monteiro, leloeiro famoso e marido de Zaquia Jorge, estrela do chamado teatro de revista. Para atender a uma população suburbana culturalmente marginalizada, que tinha que pegar trem até para ver teatro rebolado na praça Tiradentes, o casal decidiu abrir sua própria casa de espetáculos em Madureira. O sucesso foi tão grande que Zaquia tornou-se ídolo da comunidade, quase uma Evita da Central.
Morreu ao tomar banho de mar na então deserta Barra da Tijuca (anos 50), onde as vedettes da época iam se bronzear a uma prudente distância da plebe rude.
Tá contado, Madá.
Madá
Peraí Dodô! Doucement, conte-nos sobre essa homenagem. Eu conheço bem a letra/melodia, mas não a inspiração. Fiquei tipo Jane, curiosa …
Dodô
Madá, acertou na mosca! “Madureira chorou, Madureira chorou de dor…”, homenagem sentida a Zaquia Zorge, atriz que abriu o primeiro teatro do subúrbio e morreu bestamente afogada.
No falecido “Bilboquet” da rue Saint- Bênoit, as duas versões fizeram sucesso cantadas pela dupla de travestis brasileiros “Les Etoiles”.
Madá
Penélope, adorei o seu texto! Não sabia dessa história ótima do Buzar. Muito bom saber que vc trabalhou com o Tarik de Souza, eu adorava lê-lo no JB. Recentemente, o Marcelo D2 gravou o Nem vem que nao tem e eu adorei a releitura.
Dodô, nesse esbarrão franco-brasileiro (adorei!) eu (turista) noto que a música “Si tu vas a Rio” é bem popular ainda hj na Franca (vcs confrimam ?), e aqui quase ninguém mais conhece o “Madureira chorou”.
eduarda
Impressionante a diferença de sentido nas 2 versões…
Penélope
Lucia C, também gosto muito da versão francesa. Aliás, eu diria que as duas refletem, cada uma, a cultura dos dois países.
LuciaC
Mas eu gosto também da versão francesa, Penélope.
Não é a “apoteose da irresponsabilidade consciente”, aliás muito pelo contrário.
Tu veux ou tu veux pas?
“La vie, oui, c’est une gymnastique et c’est comme la musique y a du mauvais et du bon…”
LuciaC
“Pra virar cinza minha brasa demora…
Sacudim sacundá, sacundim, gundim, gundá!…”
Penélope
Dodô, “Essa nêga a trop bu” eu não conhecia! Adorei o nome.
Maurício, esse verso é incrível. E na voz do Simonal a coisa toda tomava uma outra dimensão.
NAIANA
Oi Lina.. achei o site recentemente e virei fa!!! Em uma semana ja o devorei quase completamente e meus guias estao a caminho, mas, queria uma ”ajudinha extra”: voce pode me indicar algum rest. bacana, com uma vista (de preferencia da Torre Eiffell) bonita, para passarmos a noite de reveillon? Obrigada!!!
conexaoparis
Naiana
O restaurante que está sonhando é este abaixo:
http://www.lesombres-restaurant.com/
Gosto muito dele. E muitos leitores também.
Maurício Christovão
“Nem vem de garfo que hoje é dia de sopa…”
Dodô
Penélope,
Esses esbarrões musicais franco-brasileiros têm coisas engraçadas. Brigitte Bardot cantando Buzar & Imperial é música de protesto e poderia levar o título de “A vingança de Villegaignon”. Está no mesmo nível de um sucesso do Caco Velho, lançado na Salle Wagram com apoio da orquestra de Silvio Silveira, lá pela metade do século passado: “Essa nêga a trop bu”.
Em tempo: ainda no Brasil, Nonato Buzar foi o padrinho da musa da pilantragem, Regininha, também conhecida como “Me ajuda que a voz não dá”..