Por Sophia

Nasci no interior e tinha certeza de que não pertencia àquela cidadezinha embora nunca tivesse morado em outro lugar. Mudei para São Paulo em 1995 porque arrumei a desculpa de fazer a faculdade aqui. E fui ficando.

Até 2005, nunca tinha ido à França. Mas tinha uma certeza estranha de que eu pertencia ao país.

Na primeira vez que fui, era uma viagem de trabalho. O carro que me trazia do aeroporto para Paris vinha rodando pelas ruas com asfalto úmido e eu tentava absorver tudo e, ao mesmo tempo, disfarçar o meu deslumbramento. A caipira dentro de mim se chocava com a imagem elegante que eu gostaria de projetar aos meus colegas franceses.

De repente o carro fez uma curva à esquerda, saiu da Rivoli e entrou numa ponte sobre o Sena. Virei a cabeça rapidamente para tentar captar ao máximo as novas visões que se desdobravam e… lá estava ela com suas proporções elegantes, entalhada como vestido de renda, a fachada levemente iluminada pelas luzes do início da noite. A Notre-Dame. Não consegui conter a surpresa e o sentimento de nostalgia bagunçada por estar pela primeira vez em um lugar que parecia que eu conhecia desde criança. Nem tentei conter a lágrima que rolou.

Nunca mais voltei a Paris a trabalho. Felizmente.Tenho, desde então, a sorte de visitar a cidade todo ano e, quando a maré está muito boa mesmo, a sorte de ficar muitas semanas. Fui picada. Entro em crise de abstinência se fico muito tempo longe. Ah, sim: conheço as feridas da cidade e do país. Sei de suas mazelas e dissabores. Mas não consigo controlar meu desejo de estar lá.

Minha escolha de adolescência foi morar em São Paulo. Minha escolha da maturidade é morar em Paris. Enquanto isso não acontece, espero o próximo vôo.

Foto: Ana

 

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