Evandro Barreto
Original na gaveta é papel manchado. O que lhe dá sentido são os sentidos do leitor, inevitavelmente co-autor.
O mais brilhante comentário que me lembro de ter lido sobre uma obra literária é o prefácio de Taine para “O vermelho e o negro”. E, no entanto, passa longe da cumplicidade estabelecida por Stendhal com quem o lê. Quando Julien Sorel ousa empolgar a mão de Mme. de Renal , o coração que bate mais forte é o de quem completa, no compartimento da alma aberto ao texto, o não-dito sobre o calor e a textura da pele, os pelos do braço que se erguem em rendição, o arfar mal-contido, o triunfo de Pascal sobre Descartes.
Não cabe ao receptor da arte o dever da expressão, mas o dom de preencher o silêncio entre as notas, de aduzir o gesto não coreografado, de adivinhar no céu comportado do seu cotidiano as estrelas enlouquecidas que só brilharam fugazes no céu de Saint-Rémy.
Autores são o que fazemos deles, com nossa inteligência e nossa sensibilidade, nossas referências mal-cicatrizadas e nossos vazios famintos de plenitude.
Às leitoras e leitores do blog, meu contentamento pelo encontro, minha realização de autor pela cumplicidade.
Descontos e presentes aos leitores do Conexão Paris
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15 Comentários
Mirella Cozzi
Você me encanta sempre, Dodô!
Lana Lacerda
Adorei o texto. Sensibidade aguçada. Onde encontro outros textos seus
Lina
Lana
No livro que o Evandro escrever e que nós publicamos.
https://www.conexaoparis.com.br/produto/na-mesa-cabe-o-mundo/
Vivian Mara Côrtes Camargo
Agradecimento primoroso, tal qual o livro! Acabei de “devorar” meu exemplar, uma delícia!
Katia Becho
Dodô, dá vontade de abrir um whisky Passport para brindar o livro e o agradecimento :). Tim, tim!