Os apartamentos dos franceses são espelhos dos donos. Para mim, esse é o maior charme das casas francesas. Ao contrário de casas pasteurizadas pelo dedo do decorador, a decoração dos apartamentos em Paris é feita pelo gosto e pela vivência do dono.
Tudo começa no começo. Ao comprar um apartamento, é comum o francês botar a mão na massa. Como a mão de obra especializada é cara, pintar paredes, lixar madeiras, consertar vazamentos são tarefas corriqueiras para os franceses. A bricolagem (termo, não à toa, de origem francesa) faz parte da cultura. Todo mundo tem uma caixa de ferramentas sempre à mão.
Em seguida, chega a hora de decorar a casa. A ditadura da moda e do consumo, perceptível nos lares brasileiros, parece perder força nas casas francesas. Os antigos móveis são aproveitados e, caso necessário, reformados pelas mãos do dono. Os enfeites geralmente trazem alguma história: uma viagem, um presente, uma lembrança querida. Há muitos, muitos livros espalhados por todos os cantos da casa. A luz é baixa, quente, e torna o ambiente aconchegante. Nos sofás, almofadas. Nas poltronas, tecidos jogados. Na entrada, o porte-manteaux lotado concentra a bagunça. Um (ou dois) gatos perambulam pelo ambiente. Nos quartos, as camas são arrumadas com desleixo. No banheiro, vemos a escova de dentes do dono da casa, o perfume, o pijama dependurado. Na cozinha, pequena e lotada, um pão, queijos e algumas louças na pia mostram que ali vive gente. Tudo isso, meio empoeirado. Meio bagunçado.
Entrar em uma casa francesa é conhecer a intimidade do seu dono. Tem coisa mais charmosa do que isso?
Leia também sobre como são prédios residenciais em Paris.
108 Comentários
bia
Parabens pelo texto Mariana!
Parabens Lina pela filhota!
Eymard, otima a sua contribuiçao. Adorei o texto!
Patricia V.. Tb tenho e amo o livro “Paris Interiors”.
Sinto q aqui as casas seguem uma ditadura. A da Casa Cor? A do consumismo? Talvez. Importante é fazer parte de um grupo. Um coisa meio adolescente, me parece. Nao ha espaço para a criatividade, a individualidade, a liberdade.
A minha casa tem personalidade e… ate gato!
Madá
Timaço! Parabens meninas!
Mariana, muito bom o seu texto. Ele me fez passear por todas (poucas, é verdade) as casas que já visitei de franceses. Tive a impressão que esse estilo autoral independe do poder aquisitivo.
monica amadeo
Marcello Brito
depois do que a Lufthansa fez com a gente no final do ano passado, não quero saber deles por um bom tempo…aliás quero sim, que eles paguem a nossa indenização o qto antes…
Katia Becho
Pessoal,
Obrigada pelo carinho. Estarei sempre que possível por aqui,
Lina e Mariana,
É muito bom ter vocês por perto. Obrigada pela amizade.
Bjs
Maria
Acho que luz branca em casa é algo impensável, com exceção da cozinha e do banheiro.
Andar com sapato em casa é muito porquinho. O brasileiro se gaba da limpeza, critica os outros por não serem tão neuróticos com limpeza e tals, mas suja a casa inteira com solas que pisaram em tudo na rua.
Maria
Lina e agora Mariana & Katia,
Este é o melhor blog de viagens da internet. E olha que eu fuxico muito, no Brasil e alhures.
Parabéns pelos pequenos prazeres diários.
conexaoparis
Maria
Obrigada.
Vaninha
Mariana,vc esqueceu dos cinzeiros sempre cheios de tocos e cinzas.:(
.bjos
Lenna
Parabéns Mariana e Katia pelas matérias postadas, parabéns Lina pela ótima escolha das substitutas!!!
Lenna
O savoir-vivre dos franceses me encanta: ter uma casa que é a”nossa cara” nos dá uma satisfação imensa! Meus livros e revistas devem estar sempre por perto (às vezes no chão, ao lado da cama), flores no meu canto predileto, luzes indiretas para tornar o ambiente mais aconchegante, aquela manta quentinha que, faz tempo, ganhei de alguém muito querido e invés de gatos, minha beagle me acompanhando onde vou… E, sem grandes “neuras” por organização e limpeza. Só essencial para o bem estar!!!
Isabel A
Adorei o texto. Parabéns!