Alécio de Andrade é um dos maiores fotógrafos brasileiros. Chegou em Paris em 1964, onde viveu até sua morte, em 2003. Foi colaborador da revista Manchete no Brasil e de diversas revistas francesas como Elle, Figaro Madame, Le Nouvel Observateur etc.
Paris era um palco sem limites para o olhar sensível de Alécio.
Alécio morava na rue des Rosiers, no Marais. Mais do que um simples morador, era um personagem do bairro. De sua janela, ouvíamos o som do seu piano, que tocava com o mesmo talento da fotografia.
E, como hoje é dia do nascimento do nosso Poeta, aí vai o poema que Carlos Drummond de Andrade fez para o amigo:
O que Alécio vê
A voz lhe disse ( uma secreta voz):
– Vai, Alécio, ver.
Vê e reflete o visto, e todos captem
por seu olhar o sentimento das formas
que é o sentimento primeiro – e último – da vida.
E Alécio vai e vê
o natural das coisas e das gentes,
o dia, em sua novidade não sabida,
a inaugurar-se todas as manhãs,
o cão, o parque, o traço da passagem
das pessoas na rua, o idílio
jamais extinto sob as ideologias,
a graça umbilical do nu feminino,
conversas de café, imagens
de que a vida flui como o Sena ou o São Francisco
para depositar-se numa folha
sobre a pedra do cais
ou para sorrir nas telas clássicas de museu
que se sabem contempladas
pela tímida (ou arrogante) desinformação das visitas,
ou ainda
para dispersar-se e concentrar-se
no jogo eterno das crianças.
Ai, as crianças… Para elas,
há um mirante iluminado no olhar de Alécio
e sua objetiva.
(Mas a melhor objetiva não serão os olhos líricos de Alécio?)
Tudo se resume numa fonte
e nas três menininhas peladas que a contemplam,
soberba, risonha, puríssima foto-escultura de Alécio de Andrade,
hino matinal à criação
e a continuação do mundo em esperança.
Descontos e presentes aos leitores do Conexão Paris
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27 Comentários
Alba Trede
Uau! Que linda matéria!
Mariana… filha de peixe, peixinho é???
Que bom que a “reformulada” do CP me permitiu essa delicada leitura! Suave…
Adorei!
Talita
adoro esse fotógrafo! eu o descobri numa exposicao do Museu de Belas Artes do RIo e a expo era só sobre as fotos que ele tirou no Louvre! genial!
Amélia
Parabéns Lina e Mariana. Parabéns aos 2 artistas que tanto brilharam e brilham no nosso coração!
zeluiz
Muito legal a lembrança dos dois artistas.
Lina e todos do CP, falando em fotografias de Paris, entrem no site da revista on line Lens Culture sobre fotografias contemporâneas. Um dos destaques do site são os registros de Paris de Eugene Atget, fotografo francês, feitos entre 1900 e 1927. Em 1997, Robert Rauschenberg, o americano icone da art pop, refez os passos de Atget, re-fotografando os mesmos lugares, os mesmos ângulos, cem anos depois. Pouco mudou. O resultado é impressionante e magnífico.
conexaoparis
Zeluiz
obrigada pela dica.