Por Evandro Barreto, autor do livro Na Mesa Cabe o Mundo, lançado pela Editora Conexão Paris.

Metade de Paris – a margem esquerda do rio – eu já conhecia por conta própria, cada vez melhor, com mais sabedoria e prazer a cada retorno. Na margem direita eu surfava um pouco, pelos locais relevantes, mas sem grande intimidade com transversais, galerias, lojas de griffe e restaurantes de charme comportado.  Essa era o domínio incontestável de La Blonde, que só vim a encontrar quando a vida nos fez prontos, numa esquina mágica, não do sexto ou do oitavo arrondissement, mas sob o sol do Leblon.

Ela, Wagner, eu, Vivaldi; ela, Van Eyck, eu, Hyeronimus Bosch; ela, “O grande Gatsby”, eu, “O velho e o mar”; ela escargots, eu, moules à provençal; ela, champagne, eu, calvados; ela, Descartes, eu, Pascal; ela, leão, eu, caranguejo. No primeiro momento, conectados por amigos em comum, não nos sabíamos ainda senhores dos recortes de um quebra-cabeça com apenas duas peças, que o tempo nos levaria a encaixar, ao longo de um percurso sinuoso pelos botecos cariocas e as areias cearenses, as neves escandinavas e as araucárias de um Brasil com sotaque europeu. Cada um sentindo, com excitação e irritação, os cotovelos do outro-outra  abrindo espaço na sua vida. Abrindo a vida.

Como manter inquebrantável a cumplicidade estabelecida em torno de bar, Bach e Barthes?  Como não temer quem nos traz rosas brancas, que protegem os cancerianos, e aponta em nosso mapa astral horizontes e abismos, o necessário desconforto das mudanças para o merecimento do novo? Como conciliar Pascal e Descartes?

Paris tem muitas pontes. Foi tudo o que precisávamos para unir as duas metades, fazendo, enfim, de histórias paralelas um território partilhado.


na-mesaLa Blonde é pitaqueira do Conexão Paris e personagem do livro Na Mesa Cabe o Mundo, de Evandro Barreto. 

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