Por Eduardo Carvalho
Na abertura de Paris é uma festa, obra-prima do escritor norte-americano Ernest Hemingway, está escrito assim: “Se você quando jovem teve a sorte de viver em Paris, então a lembrança o acompanhará pelo resto da vida, onde quer que você esteja, porque Paris é uma festa ambulante.”
A afirmação é certeira. A cidade instaura em nós uma festa da qual – ainda bem – nunca mais nos livraremos. Pensando nisso, conto hoje sobre uma pequena “festa” que se deu comigo no inverno de 2013, em Montmartre.
Numa das barracas do Mercado de Natal montado na Rue Azais, ao lado da Sacré-Coeur, a taça de champanhe custava 4 euros. Pedimos duas. Eram de plástico e nos foram entregues cheias quase até a borda. Fazia um frio danado e muita gente bebia vin chaud, o vinho quente, hábito francês comum nas estações de esqui.
Nós não. Saímos entornando aos poucos o nosso precioso líquido, gelado e borbulhante. Descemos até a Rue du Cardinal Dubois e sentamos no primeiro degrau de uma escada estreita, paralela à grande escadaria que dá acesso à basílica famosa.
De repente, percebemos que de dentro de um ônibus parado no ponto um casal ria e gesticulava, tentando se comunicar com alguém na rua. Não haveria de ser conosco. Olhamos em volta na tentativa de saber o que estava acontecendo. Até que o motorista começou a sinalizar, apontando para as nossas taças.
A ficha caiu e os três acenaram efusivamente para nós. Outras pessoas observavam a cena e também sorriram, como que aprovando a nossa “atitude”. Com a Sacré-Coeur ao fundo, por alguns minutos fomos a atração daquela tarde fria em Paris.
Imagino que tamanha “comoção” talvez tenha ocorrido pelo fato de Letícia e eu, um casal qualquer, estarmos ali celebrando o amor e o encontro sem exibicionismos. Sentados no chão e não num café, por exemplo, quem sabe não tenhamos subvertido o clichê do cartão postal e encarnado – para aquele outro casal comum – a utopia romântica de Paris?
Um ano depois, voltamos ao mesmíssimo lugar na esperança de refazer o programa. Mas o mercado de rua tinha dado lugar a tapumes de obra. Dentro da gente, ficou a lembrança daquele momento único. Mais um presente de Paris, a cidade onde a vida sempre pode ser uma festa ambulante.
Eduardo Carvalho, 39 anos, é jornalista. Não vive em Paris, mas Paris vive nele. Mora no Rio de Janeiro, onde lançou, em 2010, o livro “Sambas, boemia e vagabundos” (Ed. Multifoco), reunião de crônicas sobre rodas de samba e bares da cidade.
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10 Comentários
Eymard
Sua cronica traz Paris de volta. Por inteiro. Ja estou a procura de suas crônicas cariocas. Parabéns Eduardo. Paris é assim mesmo. Simples assim. Não precisa mais do que isso.
Mel
Lindo relato!
Me fez lembrar um momento especial da minha vida, onde eu e meu marido brindamos o amor, c/ um vinho maravilhoso comprados nos arredores, sentados na ponta da ile de la cité, apreciando” la Seine “e o por do sol… Só mesmo em Paris!
Lena Ranghetti
Ah, celebrar espontaneamente o amor num dia frio em Paris e , ainda, com champanhe?!Que delícia!
Carla Bueno
Nossa que lindo texto, muito bom!!! Nos sentimos assim em Paris, sempre uma festa!!!
Phillipe
Eduardo, post muito bacana e que traduz o que Paris nos remete. Gostaria de saber qual os lugares onde se pode sorver champanhe com um pouco dessa vibe. Qualquer lugar em Paris se pode parar e beber uma taça, como chopp no Brasil? rsrsrs
Maria de Fátima Lobato Tavares
Emocionante este post! E de muita leveza como deve ser a vida! Parabéns Eduardo! E muitos momentos divinos como esse em Paris com Letícia!
Eduardo Carvalho
É isso, Mauricio: sorte e oportunidade. Obrigado e obrigado também à Cristina pela leitura.
Abs!
MônicaSA
Que post lindo…viajei!!!
Mauricio Christovão
Beleza, Eduardo!!! Vocês estavam no lugar certo em Paris(o que já é um acerto) e na hora certa. Um momento fugaz e único, que provavelmente não se repetirá, mas outros momentos fugazes e únicos certamente esperam você e sua amada em algum lugar de Paris. Tin-tin!!!
Cristina
Bonjour conexão Paris…
Acredito de coração que Paris é uma festa como fala Ernest Hemingway em seu livro (Paris é uma festa) que por sinal já devo ter devorado umas 5 vezes. Certamente Paris é uma festa interior e exterior. Começamos nos sonhos e paixões em nossos corações, somos nossos sonhos. Porque não termos Paris e sermos franceses de coração. Adorei, alias foi um momento único este artigo. Merci beaucoup.