Hoje é o Dia Nacional Francês no qual é comemorada a “Tomada da Bastilha”.
Esse evento, acontecido no dia 14 de julho de 1789, oficializou o início da Revolução Francesa que, entre outras coisas, guilhotinou muita gente, acabou com séculos de monarquia absolutista na França e deixou como legado a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.
Comemorações do 14 de julho em Paris. Foto: Vince11111 no Flickr
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O 5 mitos da Revolução Francesa
O jornal Washington Post, na sua coluna semanal “5 Myths” do dia 09 de julho de 2015 (leia o original aqui), discute 5 mitos sobre a Revolução Francesa que a maioria das pessoas acreditam ser verdade mas, que no fundo, não são bem assim.
O próprio motivo da comemoração – a tomada da prisão da Bastillha pelos revolucionários – tem também outra versão: os legisladores da época, querendo ter algo menos violento para marcar a data, usaram um evento pacífico (o “Festival da Federação”) ocorrido em todo o país no dia 14 de julho de 1790 para expressar o compromisso do povo francês com a liberdade e a unidade do país.
O texto a seguir foi escrito por David A. Bell e foi traduzido e editado por nós.
1. Quando ficou sabendo que os pobres famintos não tinham pão para comer, a rainha Maria Antonieta respondeu: “Que eles comam bolo.”
Na frase original não é dita a palavra “bolo” e sim “brioche” e não foi Maria Antonieta quem a disse.
Versões dessa frase, atribuídas a vários governantes franceses anteriores, circulavam na França desde o início dos anos 1600. Ela expressa a convicção popular generalizada de que a realeza ostentatória não entendia e não se importava com a situação dos pobres famintos.
Maria Antonieta, enquanto nenhum modelo de humildade ou simplicidade, tinha instintos de caridade genuínos em relação às pessoas pobres.
Mas, depois de 1789, sua oposição à Revolução Francesa fez dela uma das figuras mais odiadas no país.
2. A Revolução Francesa foi uma revolta dos oprimidos.
A obra “Um Conto de Duas Cidades” de Charles Dickens é o mais conhecido de muitos romances que retratam o pobre miserável francês se vingando de seus opressores aristocráticas durante a revolução.
Porém os realmente pobres tiveram relativamente pouca participação em uma revolução que começou entre os nobres ricos e profissionais liberais nos salões de reunião em Versalhes, semanas antes da queda da Bastilha.
Mesmo a dramática violência popular, que levou várias vezes a revolução adiante, foi principalmente realizada por homens que não eram pobres.
Nas cidades, os militantes urbanos que se chamavam sans-culottes (ou seja, sem culottes – sendo culottes o tipo de calça usado pelos aristocratas) na maior parte eram artesãos, lojistas e funcionários.
Seus líderes, embora muitas vezes se auto-intitulassem “trabalhadores simples”, de fato eram profissionais e proprietários de ateliês e lojas.
Fogos de artifício comemorando o 14 de julho (foto: Yann Caradec no Flickr)
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3. A Revolução Francesa inventou a guilhotina.
No imaginário popular, nada simboliza a revolução de forma mais vívida do que a guilhotina, que se tornou seu principal meio de execução pública, sendo responsável por cerca de 16.000 mortes durante o “Período do Terror” de 1793-1794.
O filósofo francês Jacques Derrida atribuiu o dispositivo ao legislador revolucionário e médico Joseph-Ignace Guillotin, que escapou por pouco de ser ele mesmo guilhotinado depois de ter sido preso durante o Terror em 1794.
O livro “Revoluções Francesas para Iniciantes” fica um pouco mais perto da verdade, sustentando que enquanto o dispositivo viu pela primeira vez a luz do dia durante a revolução, não foi Guillotin que a inventou.
Aparelhos semelhantes tinham sido desenvolvidos séculos antes, incluindo o quase idêntico “Halifax Gibbet” em West Yorkshire, Inglaterra, e o “Scottish Donzela”, que pode ser visto no Museu da Escócia, em Edimburgo.
A guilhotina permaneceu em uso na França até 1977.
4. Maximilien Robespierre era um ditador sanguinário.
Sendo a figura mais intimamente associada ao revolucionário “Período do Terror”, Robespierre é amplamente visto como um proto-totalitário que cobiçou o poder absoluto.
Robespierre foi apenas um dos 12 membros do Comitê de Segurança Pública, que exerceu poderes quase ditatoriais por menos de um ano, de 1793 a 1794.
Ele era o membro mais influente da comissão e seus escritos e discursos fizeram muito para definir a ideologia do Terror.
Mas as exigências incessantes da política revolucionária o enfraqueceram física e mentalmente e, enquanto o Terror chegava ao seu clímax, ele passou semanas cruciais confinado em sua cama.
Isso levou diretamente à sua queda e execução, juntamente com vários de seus principais aliados, no final de julho de 1794.
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5. Os revolucionários invadiram a Bastilha para libertar os prisioneiros políticos detidos lá.
Este mito remonta à própria revolução e ainda aparece regularmente todo 14 de julho: “Neste dia em 1789, multidões invadiram a prisão da Bastilha em Paris, que é o lugar onde o rei Luís XVI mantinha seus inimigos”.
É verdade que durante os séculos 17 e 18, a monarquia francesa prendeu centenas de escritores maledicentes – incluindo Voltaire, o mais famoso deles – na grande fortaleza sinistra à leste de Paris.
Mas essa prática foi abandonada anos antes da revolução e, em 14 de Julho de 1789, a Bastilha tinha apenas 7 prisioneiros: quatro falsificadores, dois loucos e um nobre acusado de perversão sexual.
A multidão parisiense invadiu o local afim de pegar a pólvora ali armazenada. A memória do papel anterior da Bastille, no entanto, deu à sua queda enorme importância simbólica.
Logo depois, sua demolição foi ordenada. Aliás, a coluna que está no local hoje em dia não comemora a queda da Bastilha, mas sim os “três dias gloriosos” de uma outra revolução francesa, de 1830.
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17 Comentários
ANA MARIA DE OLIVEIRA SOUSA
Qual o nome de um revolucionário francês que tem seu nome em uma praça?
Rodrigo Lavalle
Ana Maria, são tantos…
Abraços.
Maria Tereza Frota
Muito esclarecedor Rodrigo, parabéns! Li recentemente PARIS – A Biografia de uma Cidade. Para quem é apaixonada por ela como eu, é leitura indispensável!
Otavio Leandro
A Bastilha é onde atualmente é a praça da Bastilha mesmo?
Rodrigo Lavalle
Otávio, sim. Na plataforma da linha 5 do metrô, na estação Bastille, existem vestígios da antiga prisão.
Abraços.
Cristiane Pereira
Otimo artigo! Parabéns, Rodrigo, por nos ajudar a aprender um pouco mais sobre a França. Adoro esses posts sobre história.
Rodrigo Lavalle
Cristiane, obrigado!
Abraços.
Jessica Costa
já entendia a questão da revolução, mas agora entendo o porquê dessa data ter tantas comemorações em especial.
Mauricio Christovão
Alguém já disse: “Famintos não fazem revoluções. Famintos apenas morrem de fome”. A Revolução Francesa foi uma revolução burguesa. Belo post, e muito instrutivo.
Sandra Paim Dias
“A guilhotina permaneceu em uso na França até…..?”
Rodrigo Lavalle
Sandra, 1977. A última execução na França aconteceu no dia 10 de setembro de 1977.
Abraços.
kariny
Adorei o post. Sempre me interesso por história da França então…
Aloysio
Esse é um dia de orgulho nacional. O começar pela Praça General Charles De Gaulle, homenagem ao comandante da liberação e do orgulho francês depois da Segunda Guerra Mundial, para mim é uma amostra. Os “compagnons de la libération” estavam também lá, representados no mesmo trajeto que fizeram em 1945.
Jota Neto
Excelente matéria! Parabéns pela iniciativa da tradução!